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terça-feira, 29 de maio de 2012

astrologias.

Separação

Estavam juntos. Um cantava sobre a Lua que brilha lá no céu. A outra cantarolava A Lua Girou.

Ao nascer do Sol, a paixão terminou.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

emoções investidas.

Sinos

Enquanto os sinos tocam no campanário eu procuro na multidão. Havíamos acertado de nos encontrar na pequena praça da matriz, na hora da primeira missa. Enquanto todos assistem ao culto, poderemos conversar, ela me disse.

A ansiedade me faz parecer assustado, que é justamente meu estado, pois tenho medo de não encontrá-la no meio de tanta gente. O repique intenso quase elimina o som das pessoas, ou elas realmente ficam quietas à sombra da igreja. Também estou quieto. Me pergunto se terei coragem de tentar sobrepujar o campanário e gritar quando a avistar.

Já estão quase se acabando os toques que clamam pelos fiéis. A multidão fica mais e mais rarefeita e ainda não a encontrei. O coração quase cessa suas batidas quando o último sino canta.

Silêncio e solidão. Passo a vista pelos bancos, árvores e o carrinho de pipoca. Nada. Sem que eu perceba o coração perdeu algumas batidas e voltou ao normal. Compro um pacote daquela pipoca doce colorida para adoçar a boca.

Pago com uma nota sem esperar troco. Cordial, o pipoqueiro sorri e se despede. Até domingo que vem.

Até.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

ideias antigas, ideias futuras.

Vidência

Ele via o passado de tudo o que tocava. Ela, o futuro.

. . . 

Um dia ela teve uma visão: perderia o amor de sua vida sem poder ao menos conhecê-lo.

. . .

Anos depois, ele se sentou na mesma cadeira, noutro café, e viu que há muito perdera a chance de conhecer verdadeiro amor.

. . .

Na velhice, ela já não via mais nada. Ele, lamuriava os anos vazios que passaram. Sempre foram vizinhos.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

um conto pequeno.

Referência

Procurava em toda parte aquele livro. Embaixo da cama, na escrivaninha, sobre o armário de roupas. Banheiro, sala, cozinha. Não poderia ter desaparecido, pois era importante - e mais que necessário naquele momento.
Sabia que nele poderia encontrar a frase que há dias parecia dependurar-se precariamente dos limites da memória. Desesperadamente, agarrava-se à esperança de encontrar aquele livro tal qual o náufrago agarra-se à tábua de salvação. As esperanças do amor são sempre dramáticas.
Dizia a si mesmo que, se encontrasse o livro, se encontrasse aquela passagem marcante, poderia conquistá-la. Pelos artifícios da ficção, com as palavras de um autor sepultado há setecentos anos, poderia fazer brilhar o sorriso dela e iluminar seu próprio ânimo.
A procura só fazia aumentar sua angústia e pôs-se a rever todos os livros já passados em revista menos de uma hora antes. Era difícil dizer o que sentia e, então parecia muito mais fácil legendar seu afeto com o trabalho alheio. Há algum tempo se viam, mas sentia como se não fosse honesto o bastante para dizer o motivo de sempre querer vê-la.
Cansado de procurar, com medo de não ter forças ou mesmo a coragem de seguir adiante, abriu um outro livro qualquer e escolheu uma outra passagem. Sua escolha provou-se esteticamente superior. Dobrou, fechou e selou.
Semanas depois recebeu a resposta. Laços cortados e a promessa de não mais importunar a ninguém, se bem que com votos de sucesso e extrema cordialidade. Revendo o trecho, concordou: a escolha fora terrível. Se a intensão era das melhores, o discurso afirmava justamente o oposto do que pretendia comunicar: sua tentativa de parecer nobre a fez perdê-la.
No dia seguinte chegou um pacote do correio com o remetente dela. Teria reconsiderado? Um livro - O livro. Na primeira página encontrou o que havia escrito meses antes, na época em que se conheceram, quando a presenteou com aquela edição: "com afeto, abro aspas na página 142, sem intensão de fechá-las".

terça-feira, 15 de maio de 2012

sentimentos ocultos.

Pela manhã, bico de pena sobre papel canson

O café bem cedo. Ao longe, o som do trem na ferrovia. Os freios e os gritos. O inferno preto e gelado sobre a mesa envenena, enquanto o quadro, da sala, testemunha o calor do ciúme.

"Pela manhã" será outro conto do meu livro. Confirmando a data, mas, se puderem, reservem a data: 23 de junho!

Será uma noite interessante...