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segunda-feira, 9 de julho de 2012

conto de reencontros.

Poeira na luz

Acordei quase sentindo a juventude primeira no corpo, chamado de meus sonhos por um inconveniente raio de Sol. A luz encontrou o ângulo perfeito entre as cortinas e atingiu em cheio meu rosto. Virei e revirei até que o retângulo luminoso atingisse meus dedos.

Naquela luz nova minha mão também parecia jovem, mas a magia durou um piscar de olhos: na pele já surgiam marcas, dobras e os sinais de que o tempo não para, mesmo que a gente insista em não lhe contar a passagem. Todo o resto em meu quarto foi lançado na escuridão e me senti preso numa caverna - minhas sombras na parede eram aquelas projetadas pelos indícios da vida vivida em cada ruga de meus dedos imóveis.

E o tempo mesmo parecia suspenso, pois aquele ponto de luz parecia não sair do lugar e eu já sentia como se tivesse passado toda a minha memória em revista. Pensei que pudesse estar morrendo. Depois pensei estar louco, mas li em algum lugar que essa dúvida é indício de sanidade.

Levantei-me e realizei todos os rituais matutinos. A vida, naquela altura, parecia reduzida àquilo: rituais, paramentos, rotinas. Diante do espelho já não via mais minha imagem. Não reconhecia aquele sujeito. Não queria.

Matei o dia de trabalho e fui andar sem rumo pela cidade. Um lugar tão grande, com tanta gente diferente, tantas culturas e tantos idiomas. Alguma novidade poderia encontrar.


Continua na próxima blogagem.

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